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Blog relativo ao Prêmio dos jogos de Tabuleiro (JoTa) premiojota@yahoo.com.br

sexta-feira, 10 de abril de 2009

O melhor da terrinha

O ARTE MODERNA



Pois aqui mais um post...
E dessa vez um de grande importância pro nosso hobby...
O jogo do Brasil, o melhor jogo lançado por aqui...
Nada mais justo que pra comentar sobre essa categoria um renomado brasileiro, autor de jogos premiados, bons e que quase levou alguma premiação...
O nosso amigo André Zatz (35 anos, casado pai de um filho) que se denomina autor de jogos o que é muito legal...alguém por nossa terra vivendo disso...


Deixo as palavras ao amigo...
ANDRÉ ZATZ
Melhor jogo lançado no Brasil

Na Alemanha, um prêmio chamado SDJ teve (e ainda tem) um papel importante no sentido de estimular a indústria a produzir jogos de qualidade. O prêmio é uma maneira de divulgar de forma gratuita, como um serviço para a sociedade, aqueles jogos que merecem destaque.

Por meio do prêmio, os consumidores ficam sabendo quais são os jogos que mais vale a pena jogar. Quando compram esses jogos tendem a gostar deles, porque são jogos bons. Isso é um estímulo para que joguem mais e para que comprem mais jogos. A indústria, pelo seu lado, se esforça para lançar jogos de qualidade que possam concorrer ao prêmio, caindo assim no gosto popular. Em resumo, criou-se um ciclo virtuoso.

Espero que em 10 anos, olhando para trás, possamos dizer que o JoTa, ainda que em escala menor, possa ter contribuído de modo similar para o aumento da qualidade dos jogos lançados no mercado nacional. Por isso, a meu ver, a categoria de jogos lançados no Brasil é a mais relevante do JoTa, em termos da mudança real que pode ocasionar.

Palavras da Comissão do JoTA: Poxa obrigado André pelo apoio...no meio de tantas criticas um palavra carinhosa ainda mais de um profundo conhecdor do mercado e do meio

Hoje, o mercado de jogos no Brasil está a anos-luz do mercado alemão. O consumidor na loja de brinquedos não tem como distinguir o que é bom do que é ruim. Ele não lê críticas sobre jogos nos jornais, porque os jornais não fazem críticas sobre jogos. Ele não lê resenhas dos jogos na internet, porque ainda são muito raras e ele nem sabe onde ler. Talvez nem saiba que um jogo poderia ser resenhado, assim como um filme ou livro. Quando vai ao cinema, muitas vezes já tem uma idéia do que vai assistir e isso aumenta a chance de ver algo que o faça querer voltar outra vez. Imagine que você tivesse que escolher o filme só pelo título, pela sinopse e pela idade mínima recomendada, sem saber mais nada sobre ele, nem quem são os atores, nem quem é o diretor, nem que prêmios ele ganhou. Pois é o que acontece com os jogos. A conseqüência é a compra de muitos jogos que decepcionam e o medo de experimentar algo novo, o que só serve para aumentar ainda mais a venda dos mesmos de sempre: Banco Imobiliário, Jogo da Vida, War...

Como a compra do consumidor é quase cega, a indústria foca numa combinação explosiva: preço baixo e embalagem bonita, negligenciando com freqüência a qualidade do produto. Alguns fabricantes até acreditam lançar jogos de qualidade. Mas seu conceito de qualidade é ainda muito limitado. Quando falamos na qualidade de um jogo, estamos falando em muitos aspectos diferentes. Entre eles temos a originalidade da idéia, a clareza das regras, a atratividade da ilustração e dos componentes, a qualidade do material utilizado e, sobretudo, a qualidade da mecânica que pode se traduzir em quanta vontade dá de jogar de novo e de novo.

A maioria dos fabricantes nacionais é negligente com relação à maior parte desses aspectos. É por isso que os novos lançamentos, quando não são trazidos de fora como cópias dos originais, às vezes com direitos pagos e às vezes não, no mais das vezes desapontam o consumidor. Ou melhor, nem o desapontam, pois o consumidor já não espera muito deles. Na cabeça do consumidor médio, só existe um punhado de jogos bons, que são os já citados, acrescidos talvez de mais alguns como Cara a Cara, Detetive, Imagem & Ação, Perfil e Super Trunfo. Fora isso, só alguns jogos baratos para dar para as crianças, porque criança gosta de qualquer coisa. Pelo menos é o que muitos pensam. Mas não é bem assim.

Em nossa visão utópica, imaginamos fabricantes que lancem jogos com componentes de qualidade, ilustração de primeira, temas interessantes, mecânicas testadas à exaustão. Jogos divertidos e que proporcionam uma experiência gratificante. Isso não é impossível. Mas é uma realidade ainda distante.


A vitória das editoras independentes

O Prêmio JoTa referente aos jogos lançados em 2006-2007, considerou Arte Moderna como o melhor jogo lançado no Brasil. A editora Odysseia acertou em cheio já em seu primeiro lançamento. Arte Moderna é um jogo inteligente, com uma mecânica sólida, envolvente. Uma verdadeira aula sobre jogos de leilão. As regras não são complexas e, no entanto, o jogo oferece diversão para um adulto, no melhor estilo dos modernos jogos europeus. Seu autor, o astro alemão Reiner Knizia, talvez seja o autor de jogos mais conhecido no mundo. O homem é uma lenda. Talvez não seja pura coincidência que o jogo considerado como o segundo melhor pelos votantes também seja dele: Samurai, lançado por outra nova pequena editora, a Ceilikan.



O que essas duas editoras fizeram é algo de grande valor para o mercado. O Arte Moderna, por exemplo, não tem apenas uma belíssima mecânica; ele tem componentes de qualidade e ilustração excepcional, até mais bonita que a da versão alemã, se posso dizer. É um jogaço.



Infelizmente, pela dura lógica do nosso mercado, até onde eu sei a distribuição do jogo não ultrapassou a pequena escala. Quem sabe se o JoTa já existisse na época do lançamento tudo teria sido diferente? O jogo ainda é vendido? Ainda é produzido? Não sei dizer, mas gostaria muito que fosse, pois talvez, considerando todos os aspectos envolvidos, seja possivelmente o melhor jogo já lançado em nosso país. Talvez agora, com o JoTa, ele receba um novo impulso para ultrapassar a barreira da distribuição e chegar ao grande varejo.


Como apreciador de jogos, só posso desejar que mais editoras apareçam, editoras como a Odysseia e como a Celikan. E que essas editoras prosperem, lancem novos jogos, comecem a construir um nome no mercado. Que assim comece a se criar um mercado para jogos de qualidade. E que, quem sabe, os grandes fabricantes se sensibilizem com essa demanda por jogos de qualidade e não percam a oportunidade de atendê-la. Seria um grande negócio para todos.

Como autor, minha contribuição para esse futuro se dá na tentativa de criar jogos cada vez melhores, jogos que possam reduzir o abismo que há entre nossa produção nacional e o que vemos hoje na Europa, sobretudo na Alemanha.


Nossa participação no JoTa

Os três jogos criados pelo Sergio Halaban e por mim que ficaram entre os cinco indicados para o prêmio de melhor jogo lançado no Brasil, são para nós motivo de grande orgulho. Significa que fora os dois jogos do Reiner Knizia, Arte Moderna e Samurai, lançados por duas editoras independentes, nenhum outro jogo lançado por um fabricante nacional foi tão bem recebido por quem gosta de jogar como os nossos.


Dois dos três foram também lançados na Europa, por editoras de lá, e isso também é uma validação importante do nosso trabalho. Mas isso não muda o nosso mercado. Porém, ter os jogos lançados aqui, isso sim pode ajudá-lo a mudar.

Os três jogos em questão foram lançados pela Estrela, um fato no mínimo curioso. É verdade que o consumidor não costuma associar o lançamento de novos jogos à Estrela, empresa que sempre pareceu concentrada nos grandes clássicos ou em jogos mecânicos para crianças pequenas. Mas foi a Estrela a empresa que acolheu nossos três projetos. Fico feliz que o JoTa tenha assim reconhecido o valor desses lançamentos e da iniciativa da Estrela.

É verdade que na luta pelo custo, o fabricante optou por materiais que não são os melhores e foi negligente com relação à ilustração. Talvez se a concorrência tivesse sido mais dura, isso teria sido suficiente para tirar um, dois ou até os três jogos da disputa. Mas não foi. A concorrência parece não ter apresentado nada melhor. Onde estava nessa hora a Grow, marca que associamos por tanto tempo com jogo de qualidade, jogos inteligentes? Em 2004-2005 A Grow lançou alguns jogos bons, tais como Pague Para Ver, Leilão de Imóveis e Batalhas Medievais. O que ocorreu então no biênio seguinte? Por que não houve novo lançamento? Ou houve e passou tão desapercebido que nem nos lembramos dele? E nesse período, onde estavam os outros fabricantes de jogos? Será que eles também vão querer entrar na disputa por esse mercado? Também vão querer ter jogos de qualidade? Seria muito bom!

Dos nossos três jogos escolhidos entre os cinco melhores jogos de 2006-2007, o único que em 2009 continua sendo vendido é o jogo dos Conquistadores. Isto se deve em parte à crueldade do mercado, que faz com que a maioria dos novos lançamentos desapareça antes mesmo de se tornar conhecida. Já falei desse fenômeno quando disse que o consumidor não tem como distinguir o que é bom do que é ruim e na dúvida fica com os já conhecidos. Raros são os jogos novos que permanecem no mercado por mais de dois anos.

Conquistadores é um jogo voltado para quem gosta de jogar. Um jogo de maiorias com decisões táticas. As partidas são rápidas, com duração de menos de uma hora. As regras são mais simples que as do War, mas as decisões são igualmente interessantes. É ideal para se jogar com os amigos.

O Riquezas do Sultão é um jogo para a família. Suas regras são excepcionalmente simples e nem por isso ele oferece menos interesse para os adultos. Uma criança de 8 anos pode jogar, mas um adulto poderá se divertir tanto quanto ela. O fato de o jogo ter sido lançado pela Queen Games, uma das editoras de maior tradição na Alemanha (a mesma do Alhambra), comprova que sua mecânica não deve nada às dos jogos mais modernos lançados na Europa. No entanto, a Estrela foi particularmente infeliz na ilustração da capa do jogo, que funciona como desestímulo à compra. Se colocar lado a lado a caixa da Estrela e a caixa da Queen, o leitor verá o que quero dizer. Acredito que isso teve um peso importante no fato de o jogo não ter deslanchado, apesar de suas qualidades. Pelo que acompanhamos, os últimos exemplares estão sendo vendidos em promoção, sem perspectiva imediata de uma nova edição. Pelo menos não pela Estrela. Aliás, se um fabricante estiver interessado em lançar esse jogo com ilustração e componentes de qualidade, terei prazer em sentar para conversar.


O terceiro jogo, o Jogo da Fronteira, é a versão nacional do original lançado na Alemanha como Hart an der Grenze. Na Alemanha o jogo foi lançado por uma das maiores editoras, a Kosmos (a mesma do Catan), e recomendado pelo SDJ, o Oscar dos jogos em 2006. Desde então o jogo foi lançado também na Finlândia e na Grécia e esteve entre várias seleções famosas de jogos, incluindo os Top 200 Games do Tom Vasel em 2007, a lista dos Traditional Games 100 da revista americana Games Magazine em 2008, onde inclusive recebeu menção honrosa como party game, a lista de jogos recomendados do Bruno Faidutti em 2006 e o Golden Geek Awards em 2007, no qual foi um dos indicados para melhor party game.


No Brasil, o jogo teve um destino diferente, saindo das lojas menos de um ano após o lançamento. A razão? Uma sucessão de mal-entendidos gerada por uma reportagem sensacionalista que levou a uma polêmica na qual a Estrela não quis entrar, preferindo tirar o jogo de circulação. Apesar do exagero da polêmica, parte da culpa coube ao fabricante. Ele ignorou um princípio básico que quem pesquisa o universo dos brinquedos conhece bem. O fato de que o mesmo conceito fere muito menos quando está num universo de fantasia. Por exemplo, muitos pais não comprariam para seu filho um boneco de um bandido ou de um soldado. Porém, se for um bandido intergaláctico, por exemplo, um caçador de recompensas do Guerra nas Estrelas, ou de um soldado cheio de glamour como um cavaleiro jedi, o brinquedo não choca tanto, pois está num universo de fantasia. É por isso que quando a Estrela tirou do jogo o contexto em que estava, no Velho Oeste, fronteira em terra de ninguém no México do século 19, ela se aproximou de uma zona perigosa, ainda mais num país em que o assunto corrupção é muito delicado. O que contribuiu ainda mais para a confusão foi o fato, talvez subestimado, de que no Brasil o consumidor ainda vê jogo como coisa de criança e tem dificuldade para conceber que um jogo possa ser voltado preferencialmente para um público mais velho, adolescente ou adulto.


Palavras finais

Espero que essa premiação sirva de estímulo para que os fabricantes tradicionais como Grow e Estrela aprimorem a qualidade dos seus lançamentos e que por outro lado, sirva como ferramenta para que pequenas editoras como Odysseia, Ceilikan e outras por vir, consigam ocupar um espaço merecido dentro de um mercado cujo potencial ainda é quase inexplorado.
Obrigado André...belas idéias...
Em breve mais posts...
Abraço a todos...

4 comentários:

  1. Grande André Zatz,

    Eu, particularmente, acho bons jogos esses três citados, Fronteira, Conquistadores e Sultão. Tenho os três nas versões medíocres da Estrela, mas que não comprometem a diversão.

    No Brasil a falta de apoio não é só das empresas, os próprios "gamers" parecem não fazerem questão que as coisas mudem, basta ver as discussões na BG-BR.

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  2. com certeza amigo com certeza...mas isso irá mudar...

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  3. A gente já tem os jogadores, já tem bons criadores, agora só falta uma empresa decidida a abraçar o mercado

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  4. pior é que falta o mais importante né...snif, snif...
    mas acho que também nos falta ainda mercado...

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